Sob pressões de todos os lados (internas e externas)
Corbin mostra-nos que a coerência e autenticidade de um líder, acompanhadas de
um programa que rompe com a ideologia neoliberal e as políticas que destroem as
sociedades e a vida das pessoas (mesmo de muitas que têm bons salários),
dizem-nos qual é o caminho que temos de percorrer, aqui e agora. Uma frente de
libertação do euro, reunindo partidos e cidadãos não filiados (mas empenhados),
das diversas esquerdas ao centro-direita, é um projecto em que devemos começar
a trabalhar agora.
Mesmo que o país ainda não tenha condições políticas
para uma saída unilateral, devemos ir criando as condições para que Portugal
possa vir a ter um governo que saiba aproveitar os benefícios do fim do euro e
minimize os custos, quando este acontecer por iniciativa de outro país onde as
condições políticas lhe permitirem dar o pontapé de saída. A sobrevivência do
euro não pode ser um tabu nos media do nosso país, ao contrário do que acontece
no resto da Europa.
O pior que nos podia acontecer seria termos um governo
de direita a aplicar políticas de austeridade e 'reformas estruturais' num
contexto de dissolução do euro. E não seria uma inovação histórica: o chanceler
Bruning ainda aplicava o "rigor orçamental" na Alemanha, nos anos
trinta, quando o padrão-ouro já estava a desmoronar-se. A multidão, desesperada
com o desemprego, mobilizada para o ódio a um bode-expiatório, aplaudiu Hitler
nas ruas. E este aplicou o keynesianismo de guerra, acabou com o desemprego,
deu subsídios às famílias, e assim conquistou a esmagadora maioria dos alemães
que se sentiam humilhados com os acordos de Versalhes.
Em suma, a ascensão da extrema direita na Europa dos
nossos dias é o resultado das políticas que o euro exige, tal como o
padrão-ouro exigia. Quem recusa defender abertamente a saída do euro, com o
medo infundado de que isso é nacionalismo xenófobo e abre o caminho para a
guerra, não só revela saber pouco da História da Europa como está a colaborar,
pelo menos por omissão, na construção de um novo desastre.
Precisamos de uma frente de esquerda, politicamente
respeitada, que diga isto ao povo, que lhe garanta que não vamos ficar
eternamente neste pântano de protectorado, desemprego ou emprego precário com
um salário que não permite ter habitação própria. Uma frente
que nos dê a esperança de, a breve prazo, podermos ter uma vida boa, muito para além do
"poucochinho" que já ganhámos com este governo.
Recusamos o conformismo. Quando a
"geringonça" acabar, queremos ter uma alternativa ganhadora, queremos
um governo que recupere a nossa soberania, aprofunde a nossa democracia e
adopte políticas para o pleno emprego. Nada menos que isto.